terça-feira, 8 de junho de 2010

Hoje me lembrei de você. E me bateu uma saudade gigante. Do tamanho do meu coração de retalhos. Ele é maior do que o planeta agua. É como se fosse agua em pó. E eu quis te ver. Te notar. E te anotar em mim. Sou uma folha em branco em processo de composição. Lá existem poesias, musicas, desenhos e silêncio. Além de você, é claro.



Carta feita pelo menino poeta à menina de pele branca, lábios de morango e flores no sorriso.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A barba crescia por entre o jardim de poesias daquele velho senhor. O varal de corda presa, soltava-se do espaço para secar cada música avoada pelo ar. As poesias lhe saiam pela manhã, e brotavam ao longo do dia, sem parar para apontar o lápis do pensamento. As borboletas levavam nas asas todos os poemas escritos pelo poeta de barbas compridas. Quando de noite dormiam, os seres que se chamam crianças, as borboletas entravam pela chaminé do desenho mais colorido do lar doce que adormeciam, e colocavam as poesias em ordem aleatória em cada sorriso guardado debaixo do travesseiro.
Quando acordavam, os pequenos seres transparentes, sentiam que podiam voar se quisessem. Anos passavam, dentes caiam, cores derretiam, olhos escorriam, sentidos morriam, e a doce criança do sorriso encantado, já era um adulto sem cor, sorriso ou um pingo de felicidade. E tudo por causa do tal poema. O tal poema que está em cada detalhe de nossos dias. Em cada folha, em cada som, em cada silêncio. Em cada cor, em cada dor, em cada pôr. Em cada sol, em cada fá, em cada lápis de cor. O tal poema que existe por tudo que se olha, mas só os pequenos que sentem e percebem, conseguem ficar com ele para sempre nos olhos, até que morra. Mas sem ter precisado crescer um dia.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

- A orquestra está desafinada.
- Não, não está.
- E os erros?
- São erros.
- Então está desafinada, e ponto.
- Erros são indesejáveis pra você?
- É claro, odeio erros, sou um erro.
- Os erros são incriveis!
- E porque?
- Se não fossem os erros, nada existira... nem a valsa.
(Silêncio)
- Nem você.
Encontraram-se no palco mais charmoso da cidade, que chovia como a previsão do dia passado que o menino fizera para a menina. Ela vestia-se de branco, para combinar com o céu choroso daquela tarde. Usava uma boina que se quadriculava ao seu cabelo escorrido pela chuva. Ele se vestia de verde, para combinar com o arvoredo que os cercavam cantando. E usava uma touca que se listrava pelo frio. Logo trocaram os olhares e ele carregou a menina por inteiro, dos olhinhos à bolsa, enquanto ela corria pela chuva, e tocava o céu como nunca.
Entramos em um lugar colorido, onde provavelmente ela vivia à escrever. Havia uma coleção de vinis, uma coleção de livros e um diálogo de silêncio. Ela me retratava pensando, como só uma alma gêmea poderia fazer. Era o que dizia o velho poeta e sujo, já sumido desse mundo: "Só podemos sentir a alma de apenas uma pessoa no universo, e essa pessoa, então, é tua alma gêmea." Ele a sentia como alma, a via atravez de todas as máscaras que um ser incrivel pode ter. Eles sabiam a hora do silêncio, que não era constrangedor como o de dois humanos, mesmo durante um par de horas.
O medo de perdê-la consumia o menino por inteiro, de dentro para fora. E ela continuava sumindo. Navegando em mares de lágrimas. Foi então que ele decidiu desenhá-la para sempre em si mesmo. Fez dela a estrela mais bonita e a colou ao lado da lua. Ele a via dançar, recitar poesias e cantarolar sem palavras. Afinal, ela pode sumir, fugir ou esquecê-lo de si própria. Mas ele, ah, o menino, nunca esquecerá da sua alma gêmea.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Era um sonho. Principalmente para ele. Ele, que vivia disfarçado de pintor, se sentiu encantado pelos poemas exatos daquela menina com um par de mistérios, que nem ela mesmo podia explicar. Mas explicação não era o que queriam. Ele, descobrir. Ela, disfarçar. Enquanto a tal moça se invadia de poemas e pensamentos, ele, no lado, queria descobri-la por inteiro. Desvendá-la até a cuca. Passou noites mergulhado em café na busca de desvendar o mínimo detalhe, a cor do seu vestido aposentado, o número de listras vermelhas do quadro de sua parede ou o tom da sua voz que ele nunca escutou. A lua minguava e lá estava ele, matutando a cor dos seus olhos quando o sol os pegava de frente ou quando o pôr-do-sol os faziam brilhar. Ele passou então à ser procurar por inteiro, em cada canto dos infinitos cantos do universo. Ele era um mistério; um quebra-cabeça de criança, montado por um louco. Mas ainda assim o mistério maior era ela. Não tinha destino, nem regras, nem limites. Era época de invenção nos miolos do menino, e ele, sendo eu, construia passo à passo, um grande disco-voador de estrelas. Ele tentava todos os dias, com palvras, poesias e cantigas, convidá-la para uma viagem infinita. Sem pessoas, destino ou inicio. Mas com cor, poesia, cantigas de ninar, aquarelas, ballet, balões, valsa, silêncio e coração. Entrariam então no disco-voador iluminado, e iriam para um lugar jamais pisado, apenas tocado com os olhos: a lua. E para sempre. Enquanto isso, para sempre, ele tentaria desvendá-la por inteira; que na verdade, era o mistério mais confuso de mim mesmo.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Não muito longe de lugar nenhum, havia um homem tão misterioso quanto um par de estrelas. A cidade nascia por suas mãos, todas as manhãs, uma completamente diferente da outra. Hora era o cheiro, com sotaque palpitante de neblina caramelizada. E outrora suas cores, uma mistura de flores com astronautas. Caia nota por nota, sustenido ao ar, como escadas dançantes, aquele velho piano de teclas gastas de tanto não ser tocadas. O homem, antes de pintar-se à luz, caminhava pelo piano; dó, ré, milhares de vezes, até o som alimentar os seus olhos infinitos de nada.

- Você pode voar, e ter olhos infinitos.
- Eu tenho, meus olhos são infinitos.
- Mas são infinitos de nada.
- E isso não quer dizer infinito?
- Mas eles podem ser infinitos de tristeza.
- Prefiro tê-los infinito de nada.

Quando enfim essa aquarela descoloriu, o homem dos olhos fundos descobriu que deixando seus olhos infinitos de tristeza, era a unica maneira de ter sido feliz. E a unica maneira tambem, daquela bela aquarela; não ter um dia perdido a cor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

No começo era só mais uma daquelas viagens sem volta. Sem inicio ou fim. Sem metade ou cara metade. Ela atravessou a rua como quem se atravessa ao peito, e some. Me parecia como sempre. Um abraço. Três palavras e meia. Olhos cor de nuvem. Um sorriso cativamente. E apartir dali navegaria de novo, nas lágrimas do meu próprio violão (coração). Ela me costurou ao seu braço e abraço. Me cobriu de vento, era tão frio. As estrelas choviam. Choviam até a lua minguar pela sua janela, e me deitar no coração.
Se eu pudesse daria o mundo à ela. Colocaria uma lua cheia, tão cheia de jeitos e maneiras. No fim do dia, quando ela fosse nascer, eu nasceria com ela à menina, no terraço mais alto de uma amizade. Em um arranha céu quase infinito. Eu cantaria, de meia lua, à encanta-la. Colocaria também uns quatro pares de nuvens borrifadas de lilás, bem atrás do seu coração (isso seria uma surpresa, é claro). Para o nascer do dia, levaria à sua cama um oceano de café, e dentro da xícara, um buquê colorido de rosas e tulipas. O sol deixará o céu avermelhado por todas as horas do dia, no meio-dia descolorirá. Ele irá se derreter como chocolate, e fará um arco-irís de cores, nas entrelinhas do pôr-do-sol.
Lembra do avião sem asa? Lembra do circo sem palhaço? E do Romeu sem Julieta? Eles podem se refazer aos poucos, podem sobreviver com malabares ou encenar outras peças da canção. Mas e eu? Eu viro parte da ponte que teme o vento lá dentro da noite, e sumo. É como se eu não tivesse nascido, nem em uma folha de papel. Sem identidade ou olhos. Guardaria em uma caixinha minha estrela cadente, minha flor, minha raposa, minha cidade ideal, minha prioridade, minha alegria e minha vida (que por sinal todas elas são você), e guardaria no céu do meu coração, deitaria, choraria um oceano, e dormiria para sempre, para sempre te lembrar.

Se eu te desse tudo o que você me faz, a tristeza viraria uma fada, e a fada... o amor!


Dedicado à Nicole Zimmer

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ela guardava o beijo em uma garrafa de segredos, em gastos lenços de papel, por décadas e décadas. A escada encolhia-se para ela sentar-se, e com seu lápis de cortes, e sem cores unicas, dedilhar por todo lastro de papel às margens escrevendo-as. Era como uma dobra do seu coração, e a janela já não havia sol. O café passava-se às pressas, na correria de um trabalho azedo, como o azedume de um menino sem um conto feito e inventado por ela.
No caminho pra casa pé ante pedra, o vento destruia-lhe o cabelo, e com aquela doce expressão de raiva, deixava esparramar-se tudo ao chão: cadernos, folhas, olhos... Tudo de uma só vez, vez por vez. Tropeçava à cada passo que tirava os olhos do seu livro inacabado que lia à cada esquina daquela cidade silenciosa. (Era ela que escreveria o final em um dia que o frio não nascera). Ouvia-se apenas o ruidos do seu pensamento e o som dos jornais voando ao ar como boboletas feitas de letrinhas de jornais. Tudo era preto e branco. Era como uma época que não existira. Seu vestido rodava como valsas coloridas em meio à tanta antiguidade. Era listrado em olhos alheios dos apartamentos abandonados daquele domingo dominical, que parecia um eterno feriado lunar.
A lua já minguava levemente entre as nuvens carregadas de lágrimas, tudo misturava-se em torno da menina. Tudo em um só livro, em um só conto. Todos queriam participar dos seus vastos pensamentos.
Era quando chegava em casa, corria atrás de suas correspondencias em branco e subia as escadas, tropeçando como se elas andassem pra trás. Cansada deitava-se no sofá cor de vinho e dormia sonhando. Tudo era encantado. Era como as cores de um pirulito de rara doçura. As coisas acalmavam-se em seu coração, como o sono fazia todas as noites lunáticas.
A cada dia que passa o seu livro está sendo escrito. Se não no papel - que rabisca noite à dentro - nas estrelas, onde todos sempre poderão ler por entrelinhas as linhas que ela nunca escreveu.


Ler ouvindo August Rush - O Som do Coração - This Time (Texto dedicado à Zizi Coqueiro)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Quando o passo é maior que a perna e a pressa é maior que o traço, o desenho quase não molda. Era palhaço, de nariz caindo ao chão. Céu voando avoado, bailarina à ler as nuvens sem céu. Era o conto da sua vida sem começo. Um vestido amarelo, um beijo de papelão, e um verso anotado à sete chaves no avesso do papel de pão. O artista voava ao quadro, deitava em cores e comprimia-se ao comprimido para a lua colorir. Foi adoecendo 3x4, um dia por vez, um dia por noite. Caçou canções e atirou no quadro, que já não tinha moldura. Ele existe e pode ser visto, mais não pode-se guardar. Nem no bolso de um poeta.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

As idéias foram me escapolindo uma à uma, quase sem rumo. O papel que era branco já descolirira, além do branco. Era um conflito de idéias, era como uma guerra de generais feitos de chocolate, em seus navios cor de sol. As manchas no papel iam se pondo aos poucos, como o sol de meia manhã. Nos depoimentos à mim mesmo, eu já me contradizia polidamente. Hora eu embarcava os amantes em um barco de papel e largava-os em um oceano sem fim, minha xícara de café. Outrora eu bordava flores em seus cabelos rasgados, e plantava-os em meu caderno. Enquanto o soneto perfeito não estiver pronto, tudo que eu escrever nele até o seu fim, será apenas mais uma linha qualquer. Mas de um soneto, um soneto quase perfeito.


Para ler ouvindo: Bright Eyes - A Perfect Sonnet

domingo, 24 de janeiro de 2010

- Pequena, coloque um ponto em todas as suas frases.
- Porque?
- Pra que elas voem, e não fujam à boca.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Ela não tinha passos, nem tinha pernas. Mas ele, aquele velho discreto e sábio tinha, tinha um par de passos a menos pernas à sobrar. Ela desenhava até a noite doer. E ele a escrever, até a noite cair. Era uma eterna brincadeira entre os dois seres, o dela distante, quase não existindo. E o dele à existir, mais do que nunca à desistir. Francisco nas barbas trocava de lápis, e nascia então Dona Joana, a Francesa, sempre à trocar de língua. O Caro Francisco levava no bolso o violão sem cordas, e seu chapéu de vento. De papel, estrelas e maças. A Rita então roubou-lhe de tudo, do sorriso ao assunto. Francisco nascia e morria ao se pôr mais uma composição à elas. E foi assim levando, Seu Chico, e ele a me levar. Nas linhas, entrelinhas e canções - tentava ele. A última, só mais uma, e depois poderia se pôr ao céu de graça e lua. Mas os pensamentos já andavam ao contrário. E quando ele me percebeu por perto, cedeu. Por seus olhos eu vi, e corri contar à ela:
- Agora eu sei. Eu sei quem é você!
- Quem?
- A canção que Francisco nunca conseguiu escrever.


Um breve relato à Chico Buarque de Holanda e Ela, a Pequena.

domingo, 10 de janeiro de 2010

- Eu tenho 8.000 borboletas.
- E porque você não gasta?
- Porque eu preciso guardar.
- Pra quê?
- Pra um dia eu te comprar o pôr-do-sol, pequena.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

- Você já quis morrer?
- Sim.
- E porque não morreu?
- Porque não estava chovendo.
- E porque precisa estar chovendo para morrer?
- Porque chovia tanto quando ela foi embora.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tudo estava como sempre ao amanhecer do meu próprio mundo, que não era nada além da minha própria rua. O cheiro de café recém nascido. A fila do pão dobrando um par de quadras. As crianças ao redor da vila, como se conhecessem todo o mundo.
Eu observava tudo do fundo da minha janela. O sol invadia meu quarto aos poucos, em fatias. Enquanto isso eu descia a escada sentado, com as mãos sujas de vento e não dava "bom dia" a ninguém. Tudo me era tão estranho. Eu sentava a mesa, e comia migalhas de fome, para poder logo sair de tudo.
Então eu colocava meus sapatos e ia até a porta, onde meus pés e meus passos me esperavam ansiosos de fuga. Eu subia a minha rua de cabeça baixa, chutando as pedras de giz nas construções. Assovios. Som de violino. Previsões do tempo por velhinhos. Eu escutava de tudo por onde eu passava. Bati palmas até elas me arderem a pele, como de costume. Logo a porta se abria. Ela me olhava com um sorriso aliviado e corria até mim com um vestido de cores verdes, eu nunca vou me esquecer dele. Passavamos o dia correndo, à descobrir cores.
Tudo acabou quando ela me disse:
- Descobrimos tantas coisas não é? Que cair dói. Que doer sara. Que cantar espanta (seus males ou as pessoas). Que morrer nasce. Que girar voa. Que chover banha.
- É verdade.
- Mas eu tenho que ir, me desculpa.
- Porque? Porque você tem que ir?
- Porque você me fez descobrir tambem o que é amor.


Para ler ouvindo: Iron & Wine - Flightless Bird

sábado, 2 de janeiro de 2010

- Teus olhos estão verdes.
- Não, não estão.
- Como sabe?
- Eles são azuis, você não vê?
- Não, você vê?
- Eu sei.
- Como?
- Espelho..
- Ele te diz a verdade?
- Não, ele me mostra.
- Como tem tanta certeza?
- Eu vejo.
- E porque não acredita em mim?
- Porque não!
- Teus olhos estão verdes.
- Eu sei, você me disse.
- E agora acredita?
- Você não mentiria duas vezes.
- I can't take my eyes of you
- Porque?
- Porque o quê?
- Porque não consegue parar de me olhar? Porque meus olhos são verdes?
- Não. Porque eu sempre escolherei a cor que eles terão para mim.

Para ler ouvindo: Damien Rice - The Blower's Daughter

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O rádio teimava em ligar, e mal me sabia porque. As vozes eram colecionadas uma por uma, em ordem não alfabética, no fundo da minha memória. Até que a voz mais parecida com um caramelo de rara doçura, me acertou de jeito, no peito; e me fez sorrir. Dizia, quase gritando: "E se o mundo acabasse amanhã?". Não. Não quis responder. Me deixei virar noite, enrolei-me na cortina e te fui a roubar. Quis te colocar no bolso, mas o coração era mais seguro, e me segurava pelas mãos. Te fiz quase promessas, e vendei teus olhos à cor do mar, ao ver de nuvens; mas se misturavam em cores mesmas e me abraçavam - teus abraços aos braços meus - fechavam-se em flor. Abri o céu, plantei a lua, limpei as nuvens, e desenhei então à ti algodão doce. Derreti minhas mãos geladas ao teu ser quente, e de mãos dadas te abri o céu, e o azul dos teus olhinhos. Deitaram-se, nós, ao nada; onde só haviamos e pouco mais que isso. Agora... acabe hoje, amanhã. Acabe mundo, acabe! Até o fim seremos nós, nós dois e o resto do mundo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Era fim de ano, e a casa continuava como sempre: cada vez mais deserta. Nem por mapa a achavam, nem por nada. Hora ela estava no seu peito, quase em vez do coração; e hora ela estava nas estrelas, onde sempre estará. O portão era a porta, e o porta-retrato ao mesmo tempo, onde tudo começava. As escadas teimavam em fugir dos pés, e o relógio em correr para trás. Todos tropeçavam no céu e nunca ninguém tentara entrar ali antes. Foi envão, até que alguém ousou me invadir o tal segredo. Me pegou de surpresa, quase virando uma arvore de plastico. Os braços, por falta de abraços, viravam galhos. E os olhos, tão cheios de vazio, viravam cores. A casa teimava agora em tranca-la ali, seja lá onde for: na lua, na rua, nas estrelas, no verso ou num cantinho qualquer do fundo de um violão. (Há quem troque violão por coração)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Abria-se o bazar, era domingo. E o azar era o mais procurado. Seres verdes preferiam sorrisos. Os azuis preferiam poemas. E os sem cores, ao ser um ser, preferiam o bem-me-quer. Eramos um par, um belo par de ímpar. Eu te guardava no bolso; no verso do verso de um verso que escrevia enquanto o tempo não passava. Fui me fazendo personagem, até errar os olhos e acertar a queda. Me escondi no fundo do baú cheio de vento, e me cortava toda e qualquer fala. Fui falando à mim mesmo e pensando ser um ser. Ouvi-me: todo ser humano pode ser humano. E fui; mas um ser verde, laranja e vermelho. E de tanto ser, um ser sem cor nenhuma. Fechava-se o bazar, e mal-me-quer tão só seria. Segredo...

sábado, 14 de novembro de 2009

Hoje tenho reza em vias retas, prego a peça em prece santa. Azul, vermelho. Em dó ré mi fá sol lápis de cor. Colorir meus sapatos para caminhar sem cinza ser, um ser cinzento. E desenhar, fazer castelos e dar-te no ar. Construções quebradas no porão, noite adentro vendo o vento dançar, fazer-me ninar. Demanhã viajar na astronave, que madruguei à fazer. Ela coube em uma folha, se chamava Lilás e cheirava Chocolate II; o I eu pensara quando era recém-nascido. Meio-dia estou de volta, trago arvores que têm no braço um abraço torto. Guardo a astronave, que agora era verde misturada ao vento azul. Era tudo branco, uma bela cor triste. Mas ter dó ré mi fá sol lápis de cor, deixou a folha como quis: feliz. Onde não tem cor, ter-te, é ter a cor que cor nenhuma de cór pode pintar. É colorido ficar; com arvores, não cinza e aberto: só ter você, mesmo que só.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O vendedor de laranja corria do homem azul que tinha os olhos verdes, o doutor curava à todos mas não conseguia curar a si próprio; o palhaço era triste, e ao fim do dia limpava o rosto com as lágrimas, enquanto o circo fechava as portas às 30:00 horas do jantar, como de esperado. E lá dormiam; se deitavam sobre o chão ou o céu de pó sem sol. Sobre o livro dormia um leão, que era pra ladrão nenhum descobrir os seus segredos, que nem mesmo ele sabia. Já o velho sábio acabara de nascer, pensando ser um violão; que de fato era. Como era transparente e de cor à imaginar, e como era também seu próprio melhor amigo. Apenas um desenho; e assim, sabia muito mais do que existir.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eram 23:23 no relógio; quase 24. Na casa azul dos passarinhos o tempo não existia, nem na casa azul do meu caderno. Nem existia casa, e nem azul; e o caderno? Não existia barco, mar e nem café. No meu nariz agora 23:28; quase 27 ao fim. Nas esquinas haviam olhos, a me arregalar e a pepitar. Não haviam mais esquinas, apenas a esquina Hollanda do Seu Buarque. Doce chocolate doce, alegrava a boca à boca ao beijo. Dois estranhos trocando de ser, de ser, de ser e não ser humano. De ser um anjo, irmã, e ser um tanto de tanto amar. Virei cartola ao mascarado, e do mágico ao giz pra te achar. Nem no mundo, nem no fundo do fundo desse mundo. De tanto e de tanto amar agora 23:38 são, só, santo pé do chão. Hora agora de correr, de dormir e de cair da cama até o céu. E do céu sonhar que vai passar, como passou você, e como passará se eu sonhar.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Hoje eu quis ver Alice. Sim, eu quis ver Alice! As cenouras cresciam quase nuas, e tão cruas de doer. Não havia cheiro nem tempo; alaranjava-se. Tudo se congelava, no nascer de ver Alice. Adormeci quando sentia um cheiro, era o cheiro de Alice! Minha gravata borboleta me levou dali ao sonho, e do sonho ao tombo; de gente derrubou-me no chão. Dei um pulo e no escuro a lua ouviu. A caixa de correio corria de mim como sempre, e de leve eu roubei-a. Para mim haviam cartas, gastas de tanto me esconder. Oh não, eram de Alice. Procurei em tudo achar, mas não achei nem o que quis procurar. Nem a mim eu pude encontrar. Alice assim se foi, sem dizer quem é. Agradeço Alice, por vir de vento ver-me velejar no barco azul sem cor.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Fui visitar aquele velho porão. A cada degrau quebrado em meu sapato eu sentia a poeira engolir minhas narinas. Era tudo cinza. Não haviam cores; ou melhor, apenas uma: o próprio cinza. Meus passos eram tortos, como os de um palhaço. Tropeçava e caía, e isso se fazia rotina naquela noite. Até que tropecei em mim mesmo, e pude ver-me por dentro. A falta de cores me cheirava à chuva quando borra as cores do meu cabelo. Ou quando apaga os meus olhos. Não havia sol por ali. Se houvesse, o sol iria colorir as janelas brancas. Não havia gente por ali, elas tinham medo de cair. Nem havia passarinhos, eles passarão com o medo de voar. Mas havia uma flor. Dentre as ruínas havia uma flor. Por mim colorirá à tudo, sendo flor. O que era ela? A poesia que faltava colorir.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Você me esqueceu? Sim. Porque? Eu não vou dizer. Você não deveria! Não deveria mesmo! Eu sei. Então porque fez isso comigo? Eu estou tão triste agora. Porque eu não sei me controlar; e porque o meu segundo maior dom, é de deixar pessoas tristes. E se eu te cativar? Quem disse que não cativou? Você já deixou a lua triste? A lua não precisa de mim. O que tem na caixa amarela? Musas. Você existe? Eu sinto que sim. Dói? As vezes eu acho que estou morta, não dói tanto assim. Eu não disse que dói tanto; vamos dançar? Não, a gente não pode dançar agora. E porque não? Porque não. Eu preciso ouvir uma música que me faça chorar. Por isso está ouvindo olhos claros? Eu quero morrer. Eu não. Não parece ter tanta graça assim; dizem que no céu tudo é perfeito. Porque a solidão é a melhor companhia? Você já viu o vento por dentro? Não, eu tive pressa. Acabou? Não! Sim! Não! Morremos? Não, só pulamos e não caímos no chão. A tua música me fez chorar...

domingo, 25 de outubro de 2009

Da árvore que nasce do teto brota música. O violino vira vento, quando em mim o vento voa. Tudo cabe na palma da mão; em nós: num palmo do coração. Dobro suave apenas mais uma vez e guardo no bolso, seu moço. Levo nas botas umas esfarrapadas desculpas, e nos meus olhos esfarrapados minhas conversas de botas batidas. Tropeço no céu, toda noite; "abrigo! abrigo!". Eu chamo, tenho a voz roída; roída de tanto chamar. Tiro do bolso o troco do meu poema e arremesso com toda força na janela da moça, que quebra. Se não quebrar por hoje, seu moço, quebro eu; e quebrado invento uma canção com meu coração pra dar à ela, e guardá-la no fundo do meu violão.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pára espelho, pára! Abro a boca e ele me abre a cuca. Fecho o olho e vejo-me dentro, bem de perto. Saio correndo pelo avesso do meu mundo até o meu mudo gritar. Sai de mim um ser fantoche, tem no olho dois pontos de interrogação. Vê o rádio na varanda musicar; vira dança de ciranda. Corre agora ao avesso de si mesmo, e vê novamente o espelho. (Espanto!). Oh Céus, eu sou um desenho no espelho, sem papel, parede, lápis ou pincel. Sem autor ou dor; de cor viro razão. Eu sou um velho caduco, e agora sou vilão. Pulo prédios da altura dos meus ombros e desmancho no colchão; são as nuvens demanhã. Ah, e de noite é o chão. Não desmancho mais no chão, viro folha de papel e depois viro chapéu. Capitão agora fui, meu chapéu é de dar medo, ele então é de papelão. Tudo isso sou agora, amanhã eu não sou mais; amanhã eu nem sou eu.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O palhaço da fila da frente corre atrás da menina descolorida. Ele imita até o seu olhar descalço de pé de pano verde; de tão verde: vermelho. Ou qualquer cor que corra, e que corra, corra do palhaço. Um suor alegre desmente seu rosto branco, quase branco de comer o que não se tem. De viver de papel de pão, anotando quantos rostos matarão a dor de rir. E quantos outros matarão o seu palhaço, também, de tanto chorar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O jardim, naquela doce manhã, era feito apenas de caretas. As bocas eram tortas, de morango com os olhos. E os olhos eram feios; como a boca feito torta. A moça do jornal me dizia: não desista de seus olhos. E os faróis estavam vazios, como o dente do duende que havia dentro de mim. Havia dentro do pacote, quase fechado, os presentes quase antigos. Guardados há anos, ainda eram presentes, eles não haviam sido abertos. Havia cartas e dizeres; tudo enrolado como enrolado estava em mim. No retrato havia eu e nos cordões havia nós. No fim, a janela se virou; e de dentro eu me vi: sozinho no jardim, nas caretas das crianças.

domingo, 18 de outubro de 2009

Café da manhã calado, ela tomava e cantava entre as mechas de cabelo mais delicados de seu chapéu de cores. Viajava... Viajava toda noite para sempre ter que voltar; não seria fugir. Nunca deixando de cantar o café, e na fé deitar. Era correndo que brilhava, e quem olhava não entendia. As coisas que realmente importam não são para entender. E mais uma vez cantava, encantava à todos, o mundo quem sabe louco. Vez por outra tambem ela sumia, tinha de si sua própria companhia, além é claro do seu delicioso chá de sumiço. Sumindo de mim com sumiço ela pensava sumir; de mim sumir. E de compor lá está ela, como sempre estará ao meu ver compor.

sábado, 17 de outubro de 2009

Agora eu era a coruja que no choro de mim mesmo observava os carros quase que voadores. Os carros de madeira nas curvas de mim moça. E no cheiro de chuva de mim gasto. Sentado o dia inteiro, não pode ser em chuva? Quanta besteira sai por aí de boca em boca. O medo de chuva eu perdi com a sacola do amor. Era madrugada, e na caixa do correio eu me via novamente, agora eu era apenas o frio. Era nas bocas não as besteiras das mocinhas da cidade. Era de boca em boca que chegava à roma, lá no amor de trás pra frente; quase. Lá no meu nome, que não tinha fim. E nas minhas anotações, onde nada tinha fim. Nem mesmo as minhas fábulas ao contrário. Ao contrário de mim mesmo.

sábado, 3 de outubro de 2009

O senhor Pestana era um velhinho simpático, e para muitos sabia como viver. Ele vivia em três lugares muito pacatos e diferentes: no livro, no violão e no pensamento. Sempre quando ele se encontrava no pensamento, tinha o hábito de sair pela rua perguntando a todos como se deve viver. Mas o que as pessoas queriam ouvir era sobre trabalho e dinheiro. Isso deixava Seu Pestana muito triste. Um dia radiante em que Pestana estava passeando pelo violão ele encontrou o Sol e começou rapidamente seu diálogo caduco: "Como devemos viver? Uma vez eu brindei um belo vinho com Epicuro e ele me disse que eu não devia me apegar às coisas e nem ter medo da morte; a morte não está, ou está e eu não. Ele me contou tambem sobre o cálculo do prazer, o cálculo para maximizar o bem-estar da vida. Já Diógenes me era um estranho. Ele não tinha desejo algum e escolhia sempre pela absoluta pobreza". O Sol escutou tudo atentamente, como se um dia isso lhe fosse importante como tudo que já ouvira antes. Pestana, o mais secreto de mim mesmo; de quem escreve esse texto. Tantas pergutas e poucas respostas. O que penso já me é segredo, e Pestana é apenas mais um deles. Sempre que Pestana me pergunta "Como devemos viver? Quem és tu?", eu lhe digo: "Que seja um que pense, meu caro Pestana; como tu".

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Lá onde vivia só.. nasceu uma fábrica. Nasceu entre portas as mais belas fábulas, todas em ordem alfabetica. Lá onde sozinho sentava o banco e sorria, pôr-do-sol. Houve guerra; de cores. Coloridos que voavam para cada peito ali presente. Ecoavam pelo ar que me voava alguns gritos, Dó Ré Mi Fá Sol Lápis de cor, matei. Um por um fui colorindo suas vidas, caóticas palavras. E fui os matando, matando, por matar. Uns de rir; outros de chorar. E de tanto chorar chovia. Rosada nuvem, que como chocolate beijava a chuva. E caia, colorida como a guerra. Pingos fizeram o Sol. E outros fizeram molhar, meu guarda-chuva secreto (eu não o uso). Corro; eu corro muito para me escapar da chuva, e ao mesmo tempo quero que ela me encontre. O céu: é a unica hora do universo diverso que posso tocá-lo, e desenho só, nas nuvens. Sei eu que não me dói; é frio. Vê essa nuvem que passa? Que desenho vê nela? Eu que fiz. Quando guerras me borravam de lilás, e de azul essa noite era minha. Dou-te ela.. um presente.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Corri lentamente cada degrau daquela velha escada. A tal escada que me rachara a cabeça quando eu era apenas uma criança, e sabia tudo sobre a vida. Sabia porque os dedos murcham quando me banho. Sabia também contar as coisas mais absurdas, para mim era perfeitamente fácil saber quanto dava quarenta bilhões vezes infinito. Muitas coisas eu sabia. Porque a lua é branca. Porque o tempo corre. Porque eu me desenho. E porque o sol os colore. Sim, tudo sabia eu. Porque a gente morre. Do que é feita a neve. E do que é feita a nuvem. O que é cativar? Sabia eu. Sabia conversar com a lua, e as vezes a beijar. Sabia dançar com o vento, e as vezes o trair. Sabia abraçar as arvores, e as vezes não aparecer. E sabia girar na chuva, depois que ela me encontrasse no meu mais seguro esconderijo: o mundo de sofia. Foi tudo o que consegui pensar enquanto subia aquela enorme escada. Cada vez fui subindo mais rápido, como se pudesse voar. E no último degrau, enfim, voei. Voei até minha idade, caduca. Peguei-a nas mãos e precisei fazer malabarismo para que não me escapasse por entre os dedos. Decidi ali, nunca mais ter idade alguma. Não crescer, não envelhecer, e não nascer. Decidi saber tudo que eu soubera há anos atrás, quando sabia da vida ver o que mais belo me agrada. Atirei-a céu abaixo, sem pena e nem raiva. Ela entendera que eu queria apenas não precisar de ninguém além do céu, do sol, da chuva, das flores, das cores e da vida. Entendera ela naquele momento, como todas as pessoas não, que eu queria era apenas viver, e não como tantos outros, apenas existir.

Já olhou o céu hoje?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Andava eu dançando pela rua, isso segundo pessoas que me viam caminhando. Ou dançando, segundo eles. Era como se eu soubesse da tal dança, era como uma valsa em meus pés. Havia eu, apenas, e o silêncio. Talvez o som da minha respiração. Ou talvez o cheiro dela. Olhava para o chão, atento, como se ele fosse sumir, ou quem sabe cair ao espaço a qualquer momento. Com coragem olhei para o céu, para o sol, que a essas horas não mais estava lá. Vi estrelas, olhando-me com seus rostos brancos como os braços da minha pequena, que gigante era no coração, passado. Soube logo que ela estava ali, sim, eu sabia. Não a achei, e quase cansei. Se não fosse pela arvore que me escondia à sete chaves tudo que eu queria ver, ou tocar. A cada passo me esquivando da arvore ela foi invadindo meus olhos, como um branco na imensidão que meus olhos descobriam. Foi alí que pude ter certeza: branco também é uma cor. E das mais belas por sinal. Era a lua, tranquila como o vento assobiando melodias ao meu redor. Joguei a ela o mais bonito dos diálogos, percebendo sua tristeza por estar só. Era culpa das estrelas, que dias me agradam tanto e outros dias me decepcionam profundamente. Entre tropeços quase que impercebíveis e conversas de bebâdos de botequim à beira de estranha, eu ia para casa. Feliz por tê-la encontrado, e triste por vê-la ir embora. Eu estava tão próximo dela, mas tão próximo naquele dia, que me tornei a pessoa mais distante dela.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Vesti-me com a minha melhor roupa. Era um terno laranja, com detalhes em vermelho. Tranquei a porta e me fui pelas ruas, que eu passaria pela ultima vez. Também me despedi de umas pessoas que eram grandes e estranhas. Tirei do bolso um pequeno príncipe, em um pequeno livro. Rua adentro eu fui o devorando. Folha a folha eu fui me despedindo. Esquina a esquina eu fui me aproximando. Comecei a sentir o seu cheiro. Era incrível; indescritível. Foi quando então me dei por conta. Só podia ser ela, claro. Com sua melhor roupa, vestida de cetim. Com um gosto estranho em mãos, me encontrou. Me foi gentil. E me foi grata. Por lembrar que havia eu, feito um canto a ela. Um canto para minha morte.

domingo, 2 de agosto de 2009

Uma mão delicada tocou minhas costas. Era quase dia, com o céu ainda escuro. Disse-me tantas e tantas coisas, e não usou uma palavra sequer. Ouvi o silêncio, apenas. E o som tranquilo de seus passos. Tampando meus olhos havia um mar. Era como se estivessemos em uma xícara de café. O mesmo café preto que me fazia companhia nos sábados em que eu não conseguia me fazer radiante, então cantava. E tampando minha nuca havia alguém. Talvez fosse delicada, talvez não. Horas depois de o tempo ter parado, eu senti meu cabelo espalhafatoso dobrar. "Era um presente dentro de uma caixa natalina" pensei por hora. Mas não, era apenas uma boina francesa. As cores me arderam os olhos, pois elas não haviam. Era preta. Isso que nem cheguei a observá-las. Foi quando além dos olhos, me senti incomodado por outro fato: a boina estava escorregando. Iria manchar as suas cores tristes com café. Levei minhas mãos como uma longa viagem até a tal boina, e pronto, arrumei-a. Ventando ao meus ouvidos ouvi umas poucas sílabas que diziam: "Não. Deixe. É assim!". Pousei minhas mãos sobre o vento, com a mesma sensação de queda. Não levaram muitos minutos até que me acostumasse. Quando finalmente decidi olhar pra trás, nada havia. Havia, claro. Mas como em um sonho, não mais havia.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Essa máquina de café me traz um aroma colorido. Como quando me escondia de você, e do que mais me era abrigo. Os detalhes mais pequenos, guardados em caixinhas de papelão. E os retalhos dos teus olhos, eu guardava no coração. Do vestido, entre as mãos. E do nosso amor, o que não é. E nunca foi, talvez. O que nunca será. Ou o que pra sempre estará. Em mim. Se teus olhos já fechados são de sono, eu me engano. Vejo-lhes tão bonitos, como de natureza nascera. Nas canções de noite frias, seus acordes me aquecera. Nunca esquecerei do desenho que me fez, e abraça quando choro. Mesmo quando choro, eu te amo.

domingo, 19 de julho de 2009

Todas as coisas se abrem. Talvez seja um charme, ou apenas uma simples regra. O vento abre as nuvens. As crianças abrem os medos. A lua abre um sorriso. Seus olhos se abrem pra mim. E os encantos bons que estão em você, voam. Se perdem ao infinito, em liberdade. Olho já tarde, e me volto tão tristonho. Chuto o vento, lendo a noite. Sento à margem de um velho banco solitário. Paro, e de tão paro, não respiro. Observo ao fundo e ao lado. Toco o vento, que outrora eu chutara, e agora o sinto. Eu o amo, mas as vezes ele me irrita. Não é sempre. Quando penso que apenas o vento está comigo, me engano. Quase que sem querer, olho pro céu. Está florido. Não, está estrelado. Mas enchergo o que quero, e à noite as estrelas florescem. Ao lado vejo a lua, que parece me cantar uns contos. Ou contar uns cantos. Me alegro novamente. E quando estou a me retirar, ouço um vasto assobio. Meio desajeitado, talvez. Mas me soou muito bem aos ouvidos. Olho então às minhas costas, e vejo vir a chuva. Que antes de me molhar o que fosse, disse-me: ser solitário, as vezes, é um sorriso alegre em meio à solidão.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Olha pra mim. Sei que podes em um relógio ver meus medos e meus dedos. Eles que carregam com garra e força, com um pouco de açucar, o meu amor. Por você é que cantarei, cultivarei e matarei o que resta. Nem do choro me dou medo, ele é água com sal, e não bolacha. Chamo tanto e pouco ouço. Sou igual ao que todos deveriam ser, mesmo não sendo. Então dança, comigo é claro. Me manda uma carta, um beijo, ou uma estrela se quer. Ou apenas feche os olhos. Todas as noites de preferência. É fácil ver, só não vê se tens um olho aberto. Olha o castelo que te fiz, com todo calor e o pôr-do-sol que achei no céu de pó. Veja a toda hora o que te sinto. Veja tudo que quiser ao fechar os olhos. Já está feito, só pra você. Passei dias e dias pintando o céu com guache, e à você que dediquei. Lá tem estrelas, a lua, as coisas, a saudade, e o amor. É o que você merecia de mais honesto. O que mais queria lhe dar é impossível; não cabe ao mundo. Cabe apenas a única: você.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Encontro flores no jardim que voam noites. Bonita e escandalosa me prendeu, onde tudo era tranquilo. Me ensinou ser um artista. Pintar os quadros como a vida, e a vida como bela. Onde dentro de si mesmo encontrara sendo simples. E quando caprichava na conta, perdia. Era um jogo de bobagens, e onde o chocolate tesouro seria. Seria também um olho no mundo, e outros nas estrelas. Havia pouco, e pouco mais de mil olhos. Eram suficientes para ver as estrelas, não mais do que dois. E tranquilamente, não mais do que um. As estrelas se cansaram de vergonha, por ser vigiada a todo tempo pela face. Veria eu, com meu coração a tal estrela, a tal florida estrela. Que de noite, eu sonhei vê-la passar.
Vem chorando o outono. Onde folhas beijam chão. Onde arvores dançam. E as valsas no salão. Vem com vestido bordado, e uma flor de lado brilha. É o outono que combina. Junta peças de teatro com magia de feliz. Um rosto pintado no espelho é calado. É um palhaço escondido, vendo o circo viajar. Entre as cidades mais desertas que um coração pode criar. Entre as canções mais alegres que um tom alcançará. Sentindo saudade estou, do outono e de você, meu querido outono.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Perdôes lhe devo tantos. Sem jeito, dou um jeito. E de costas, fujo. Fujo do que lembro, mas me tanto dói as vezes que é preciso um remédio. O remédio me dá sono, durmo. Na madrugado me balanço, caio à cama. Sempre torta pelos livros que debaixo, miram minhas fugas. Vou a janela que me abriga. Abre a cortina, meio acanhada de vergonha, e me deixa ver o incrível. O céu me acalma, a lua me encanta, e as nuvens me cantam. Posso voltar a descansar, ou a sonhar. Ou a ler, ou a pensar. O que menos importa agora, é voltar a dormir.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Primeiro ouço um tiro alto, que ensurdeceu meus brandos ouvidos. Segundo sinto uma facada pelas costas, um verdadeiro ato de covardia (há quem diga que foi um ato de coragem). Terceiro mastigo o gosto de terra e de sangue, que me fez a morte prematura. Ainda tive tempo de pensar: "Morrer primeiro, morrer segundo, morrer terceiro..." Foi quando sem mais nem mais, apareceu um soldado sem braço, sem rosto. Um tiro. A morte. "Agora sim estou morto" Pensei eu, em voz baixa. Ora, já nem havia voz alta, eu era um cadaver. Dando uma rápida volta pelo campo de guerra, podemos enxergar qualquer aroma de terror (Aroma se enxerga, não se sente). Eu não via e não sentia. Apenas ouvia. É isso que os mortos fazem. E pude ouvir gritos, gemidos, e pedidos de socorro. E o socorro de muita gente era pedir a morte, mas ela estava de férias. Ouvia também a gargalhada oca do sangue, que aos poucos dava uma nova textura as paredes da cidade. E que saudade de quando o que eu ouvia era o "tam tam tam" de uma velha gaita ao invés do "papapa" dessas novas metralhadoras. O amor existe, mas bem longe daqui.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ah, não sei. Não dá. Já tentei. Agora junte as mãos em prece santa. Junte os pés em vias retas. Junte nossos abraços meio tortos. Meio desajeitado, por nossas medidas tão estranhas. O meu inglês tão indeciso e o seu francês tão inventado. Foram vendidos no mercado. Assim, tão simples. E o que ficou já me disfarça, quando invento um cigarro. Uma bebida tão ingênua, apenas para não lembrar. Quando trago fico feio. O cigarro me acha belo. Se a verdade eu dissesse.

sábado, 27 de junho de 2009

Em um pote espaçozo, coloquei todas as rezas que consegui encontrar. Quis ser vidente, e foi evidente meu fracasso. Misturei rezas, com um pouco de leite. Me queria forte, para não ser doído adiante. Não adiantou. Pois quem me fez rezar, rezou ao céu com cereais.
Usa-lhes estes dotes. Não foram feitos por acaso, e nem por teimosia. Mesmo você batendo o pé até o chão afundar-se de fato. Pela mesma teimosia, talvez. Use a imaginação, e não deixe o amuleto cair. Ele é frágil, bonito. O amuleto das crianças, dos mitos. De cantores que ainda não cantaram para além dos seus próprios ouvidos. Use recortes de jornais, ou de revistas passadas. Faça uma barreira colorida e dê vida a ela. Depois faça uns traços na poesia e a deixe mais sua. Talvez, use-me um pouco. Talvez, use-me de tolo. Ou talvez, use meu coração. Uma vez que seja, antes que ele vire terrorista. Como el diablo de tu corazón.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tantas histórias explodem aos meus ouvidos. Algumas nascem dos miolos caducos que me criam. Outras dos miolos mais caducos ainda de quem inventa. Mas a mais certa das histórias é simples, e veio dos meus miolos: Quem me trás a falta, é bobo; Quem me trás a saudade, é especial.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vê o vento que vem lá? Forte e soberbo. Feito um pássaro. Delicado só na hora de pedir, e na hora de matar. Vê o vento que vem lá? Fraco e humilde. Feito um vento. Enquanto isso meu barco perde a lei, o sentido e a direção. Vai à fundo, e sem problemas foge do seu cais. Que lhe esperava de madeiras abertas. Como um braço e o seu abraço. Vê o vento que vem lá? Se não vê, não virá.

domingo, 21 de junho de 2009

Que promessa fajuta que te fiz. Enquanto a bobagem se embreagava de palavras. Umas triste, outras chulas. Umas feias, outras quentes. Tantas sem verdade. Me aproximei da garrafa, dentro havia vácuo. Havia também os rótulos. Muitos diziam o contrário. Porque ser do contra era moda. E quando a moda se tornou concordância, perdeu-se. Então a moda, de tão mudada, virou passado.
Que coragem teve ele. Tomou um banho de vento, e se secou com a garoa. Que a garota se molhava. Assim porque não sabia imaginar.

sábado, 20 de junho de 2009

Que rosto lavado encontro ao avistar o espelho. Cansado e sozinho. O homem está velho demais pra tudo isso, pro que de melhor há de vir. Cantando manias se enche de falhas. Umas tão graves que se tornam piadas. Hoje o sal me fez um doce. Foi tão doce até as horas, aquelas horas, quando você já não estava mais. Ouvi um grito. Era o silêncio. O silêncio e o meu rosto zangado.